PROGREDIMOS

Já vos escrevi na minha carta, para não vos relacionardes com os devassos (πόρνεις). Não me referia, genericamente, aos devassos deste mundo, ou aos avarentos, ladrões, ou idólatras, porque, então, teríeis de sair deste mundo. Não. Escrevi que não devíeis associar-vos com quem, dizendo-se irmão, fosse devasso, avarento, idólatra, caluniador, beberrão ou ladrão. Com estes, nem sequer deveis comer. Porventura, compete-me, a mim, julgar os de fora? Não são os de dentro que tendes de julgar? Os de fora, Deus os julgará. Afastai o mau do meio de vós.” (1ª Coríntios 5,9-13)

Normalmente evito escrever reflexões sobre passagens bíblicas que não entendo. Mas aconteceu de eu me deparar com a passagem citada acima hoje e decidi refletir sobre o fato de que não a entendo, na esperança de que alguém que esteja lendo isso possa me esclarecer. Eis o que não entendo: Devemos julgar, e “nem sequer comer” com, e até mesmo “afastar”, os devassos, os avarentos, os idólatras, os caluniadores, os beberrões, etc., que estão dentro da igreja? Detesto dizer isso, mas não consigo ver como eu poderia “julgar” e “afastar” qualquer membro de minha paróquia ou igreja que de vez em quando (ou sempre) faz algo como ver pornografia na Internet, bebe em excesso, é “avarento” ou um “idólatra” (digamos, por “idolatrar” certas celebridades ou causas políticas ou alguma outra droga de sua escolha), ou que seja um “caluniador”, cuja definição no dicionário, caso você não saiba, é “uma pessoa que usa palavras para prejudicar, controlar ou insultar o caráter ou a reputação de alguém”. Então, eu me pergunto, — se todos eles devem ser “afastados do meio de nós”, — então quem de nós restaria?

Como eu disse, não me identifico com as palavras de São Paulo, embora acredite que elas precisavam ser ditas, no contexto do primeiro século. Eu me identifico ainda menos com certos momentos do Antigo Testamento, por exemplo, quando o glorioso Profeta Elias (celebrado hoje segundo o Calendário Juliano Revisado) massacrou os profetas de Baal. Mas minha minúscula teoria, que vou sugerir a você com cautela (e fique à vontade para descartá-la), é a seguinte: Hoje, no Século XXI, a Igreja é muito mais forte e capaz de “receber” aqueles de nós que são beberrões, avarentos, devassos, caluniadores e idólatras, e de nos admitir à sua “mesa”. Porque o Espírito Santo tem agido e progredido em nosso mundo, desde o início, quando começou a “mover-se sobre a superfície das águas” de nosso caos. Não concordo com o que o Pe. George Florovsky chamou de “Teologia do Declínio”, que vê a Igreja em declínio, após a “Idade de Ouro” dos Santos Padres. Não, hoje somos mais fortes, glória a Deus, e nos aproximamos mais do ethos de Nosso Senhor Jesus Cristo, que “comeu e bebeu” conosco, pecadores, sem que isso O diminuísse. Portanto, estamos muito menos reticentes em admitir “pecadores” em nossa mesa, inclusive nós mesmos. É assim que vejo as coisas, por mais equivocado que eu possa estar, como digo: Glória a Deus, pelo nosso dia de hoje.

Versão brasileira: João Antunes

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