
“Então, avançaram, deitaram as mãos a Jesus e prenderam-no. Um dos que estavam com Jesus levou a mão à espada, desembainhou-a e feriu um servo do Sumo Sacerdote, cortando-lhe uma orelha. Jesus disse-lhe: ‘Mete a tua espada na bainha, pois todos quantos se servirem da espada morrerão à espada. Julgas que não posso recorrer a meu Pai? Ele imediatamente me enviaria mais de doze legiões de anjos! Mas como se cumpririam as Escrituras, segundo as quais assim deve acontecer?’.” (Mateus 26,50b-54)
Jesus poderia ter escapado de Sua prisão, com ou sem a ajuda de “mais de doze legiões de anjos”. Mas esse não era o plano de Deus, conforme manifestado nas “Escrituras”, que falam de Sua vocação — e de nossa vocação, quando O seguimos — como sendo a da Via Crucis, que é o único caminho que leva a uma nova vida. As Escrituras do Antigo Testamento estão repletas de imagens que prefiguram o mistério da Cruz, da nova vida que vem da morte, começando com “o terceiro dia” da criação (Gênesis 1: 11-13), no qual Deus criou as plantas e suas sementes, que brotam para uma nova vida depois de “caírem no chão e morrerem”.
Quando nossa vocação implicar em uma certa “morte”, não necessariamente tão dramática quanto a suportada por Nosso Senhor na Cruz, mas que implique em alguma forma de “cair (no chão)” e “morrer” para o eu, — para o eu que éramos antes dessa “queda”, — não peguemos nossa espada e passemos a ser os agressores contra as pessoas que, como o servo do sumo sacerdote na passagem citada acima, eram nossos agressores. Pode ser nossa ex-esposa ou ex-marido, ex-chefe ou ex-amigo. Em vez disso, caminhemos em direção à nova vida que Deus deseja para nós, não por meio da agressão, com a qual acabamos nos ferindo, mas por meio da verdade. Não me refiro a rolar no chão e fingir de morto diante de nossos agressores, mas a sermos verdadeiros para conosco e com eles, como Cristo foi diante de Pilatos. Ele deixou Pilatos ser Pilatos, mas testemunhou que foi Deus Quem deu a Pilatos o poder de ser quem ele era naquele momento: “Não terias nenhum poder sobre mim, se não te fosse dado do Alto” (João 19,11) .
Mas o poder de Pilatos não se estendia além do túmulo. Portanto, que eu não tema a “morte” à qual Deus possa me levar, nessa jornada carregando a cruz de minha vocação, porque Deus pode e de fato me traz uma nova vida além de todos os “túmulos” de rejeições e fracassos, por meio dos quais posso nascer para uma nova vida e crescer, se assim eu escolher, em comunhão com Nosso Senhor que vence a morte. “Não morrerei, antes viverei, para narrar as obras do SENHOR” (Salmo 118,17).
Versão brasileira: João Antunes
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