HUMOR NAS ESCRITURAS

Erguendo o olhar e reparando que uma grande multidão viera ter com Ele, Jesus disse então a Filipe: ‘Onde havemos de comprar pão para esta gente comer?’. Dizia isto para o pôr à prova, pois Ele bem sabia o que ia fazer. Filipe respondeu-lhe: ‘Duzentos denários de pão não chegam para cada um comer um bocadinho’.” (João 6,5ss)

O que significa o fato de Jesus ter dito isso a Filipe para “o pôr à prova”? Correndo o risco de parecer impertinente, eu diria que, quando essa pergunta impossível foi feita a Filipe para “o pôr à prova” (“tentá-lo”, como o verbo grego aqui pode ser traduzido), acho que o que o Evangelista João está nos dizendo é que o Nosso Senhor das Surpresas estava simplesmente provocando Filipe, mesmo quando “Ele bem sabia o que ia fazer”. Ele estava prestes a surpreender os discípulos e as cinco mil pessoas famintas e cansadas, alimentando-as com apenas cinco pães e dois peixes, e, de forma divertida, fez essa pergunta, fingindo ser um enigma do tipo: “O que faremos?”. Porque Nosso Senhor tinha senso de humor.

Tenho certeza de que Ele tinha senso de humor — esse dom dado por Deus à natureza humana que torna nossa vida menos difícil e menos pesada. De qualquer forma, não consigo imaginar um ser humano perfeito, nem um Deus perfeito — e Jesus Cristo é ambos —, não consigo imaginar uma pessoa perfeita (ou mesmo apenas agradável) sem senso de humor. Eu não gostaria de passar mais de meia hora ou mais na presença de uma pessoa assim, desprovida de senso de humor. Mesmo no Antigo Testamento, Deus demonstra certo senso de humor, por exemplo, quando diz sobre Adão e Eva, depois de encontrá-los escondidos atrás das árvores e fazer roupas para eles, após a Queda: “Eis que o homem, quanto ao conhecimento do bem e do mal, se tornou como um de nós…” (Gênesis 3,22).

Senhor, graças Te dou por ter senso de humor conosco, mesmo quando “sabe” o que está fazendo conosco, ao nos vestir e alimentar, ao longo do tempo. E agradeço por passar esse senso de humor para nós, para que nossas vidas e nossos “problemas” sejam menos difíceis, com nós mesmos e com os outros, e para que possamos aprender o Seu modo de ser, que é luz e leveza.

Versão brasileira: João Antunes

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