QUANDO ESTAMOS VICIADOS NO SOFRIMENTO

Me perdoem por essa reflexão extralonga de hoje. Mas publiquei as seguintes ponderações no Facebook ontem e, devido aos muitos comentários que recebi, achei que você também poderia achar o assunto interessante.

Esse tema todo do “vício em sofrimento” é complicado, mas tenho refletido sobre ele por causa de um e-mail que recebi recentemente. Tenho pensado sobre o fenômeno intrigante, mas muito humano, quando somos atraídos por informações ou conversas (on-line ou off-line) que, em algum nível, nos fazem sofrer. Por exemplo, quando clicamos em manchetes que anunciam claramente algo que nos encherá de raiva e/ou medo; quando pesquisamos as publicações de mídia social de um(a) ex; quando procuramos incessantemente discutir essas informações dolorosas com nossos amigos.

Não estou dizendo que não há lugar e tempo apropriados para desabafar ou falar sobre certas coisas. Estou falando de uma necessidade doentia de extrair nossa dor cutucando nossas feridas, em vez de nos amarmos o suficiente para buscar a cura para elas. Por que quereríamos voltar, repetidamente, a examinar informações que já sabemos o suficiente e que não nos trarão nada de novo, a não ser mais dor ou medo? Isso é um vício. E deve ser exposto como tal. Se estou voltando a olhar informações que não me trazem nada além de dor, é porque meu cérebro está viciado nelas e acha que precisa de outra “dose” desse veneno, mesmo que, na verdade, seja a última coisa de que preciso. O sofrimento com as informações se tornou minha zona de conforto (talvez porque seja “o demônio que conheço” e tenho medo de me abrir para algo novo), ao passo que me abster delas é desconfortável.

Mas esse desconforto pode passar, e passará, quando estivermos fartos do sofrimento e prontos para sair dele. Isso se torna tão monótono que até mesmo nossos amigos mais próximos se cansam de ouvir sobre isso e nos sentimos isolados, sozinhos com os falsos “amigos” que são a dor e/ou o medo e talvez (em alguns casos) a vergonha.

Se eu estiver nessa situação, que eu primeiro estabeleça alguns pontos simples em minha mente e em meu coração: Não quero me viciar no sofrimento e no medo, embora eu os aceite como parte da vida quando eles surgem. Mas o vício me torna menos eficaz no serviço às pessoas e com o cumprimento das responsabilidades que precisam de minha atenção, pessoas e responsabilidades dadas por Deus. Tenho um propósito dado por Deus, que se revela a cada dia, quando estou atento a ele. É claro que há muito mais pessoas e tipos de responsabilidades que não são minhas, mas seria uma perda de tempo me preocupar com elas. Algumas pessoas e responsabilidades fizeram parte de minha vida no passado, mas agora não fazem mais, e Deus sabe de tudo isso. Agora aqui estou eu, a quem Deus ama muito e para quem Ele continua a ter um propósito.

Na verdade, Deus tem muitos propósitos imediatos para mim, como manter meu apartamento e minha aparência física arrumados e limpos; manter minha alma e meu corpo adequadamente alimentados com comida saudável e informações benéficas para a alma; e fazer meu trabalho, seja ele qual for, se eu tiver um emprego, um dia de cada vez. Posso fazer pelo menos a mais simples dessas coisas hoje e ver o que e quem Deus está me enviando em seguida. Como Carl Jung escreveu: “Não se apegue a alguém que está partindo; caso contrário, você não encontrará aquele que está chegando”. Não sei se tudo isso é útil para quem está preso em algum tipo de situação como as descritas acima. São meus dois tostões sobre um assunto que estou tentando entender melhor.

Versão brasileira: João Antunes

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