“O rei Herodes ouviu falar de Jesus, pois o seu nome se tornara célebre; e dizia-se: ‘Este é João Batista, que ressuscitou de entre os mortos e, por isso, manifesta-se nele o poder de fazer milagres’; outros diziam: ‘É Elias’; outros afirmavam: ‘É um profeta como um dos outros profetas’. Mas Herodes, ouvindo isto, dizia: ‘É João, a quem eu degolei, que ressuscitou’. Na verdade, tinha sido Herodes quem mandara prender João e pô-lo a ferros na prisão, por causa de Herodíade, mulher de Filipe, seu irmão, que ele desposara. Porque João dizia a Herodes: ‘Não te é lícito ter contigo a mulher do teu irmão’.” (Marcos 6,14-18)
Quando Herodes ouve falar do “nome de Jesus”, o rei, atormentado pela culpa, pensa que se trata de João, a quem ele decapitou “por causa de Herodíade”, uma mulher com quem ele tinha um relacionamento “indevido”. De certa forma, é um equívoco compreensível, porque João, assim como Jesus, falou a verdade sobre os tipos “indevidos” de exercício do poder, como casar-se com a esposa de outra pessoa. Herodes reconheceu a voz de Deus tanto em João quanto em Jesus, mas não conseguiu fazer a devida distinção entre o Profeta e o Senhor do Profeta, porque sua visão estava limitada e, portanto, cega por seu apego a esse exercício “indevido” do poder em um relacionamento “indevido”. É um tipo de coisa extremamente cegante, abusar dos poderes que Deus nos deu para amar e conservar, é o que quero dizer. Apegar-se àquilo ou a quem não deveríamos nos apegar distorce nossa visão de tudo, porque não estamos cumprindo nossa verdadeira vocação. (Será que o “profeta” dos muçulmanos também confundiu Jesus com um mero “profeta”, pelo menos em parte porque Maomé tinha um número maior de esposas do que o número considerado “devido”, mesmo de acordo com os padrões muçulmanos? Estou apenas me perguntando entre parênteses).
Mas Jesus não era apenas um profeta. Ele, como a Fonte da Vida, poderia ter libertado Herodes das consequências mortais de seu relacionamento “indevido”, como João não poderia. Cristo não é apenas “a voz que grita no deserto” (João 1,23). Ele é, sim, Aquele que inspira essa voz e chama cada um de nós, inclusive João Batista, para nossa(s) verdadeira(s) vocação(ões) e para os “devidos” relacionamentos que nos foram concedidos e que devemos fomentar, para que possamos nos tornar quem somos chamados a ser, de acordo com o propósito de Deus para cada um de nós. “Bendito sejas, SENHOR! Ensina-me as tuas leis” (Salmo 119,12).
Versão brasileira: João Antunes
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