Ontem à noite, ouvi uma palestra brilhante do Pe. John Behr sobre o terceiro capítulo da 1ª Epístola aos Tessalonicenses. Quando São Paulo diz: “Agora que Timóteo voltou daí e nos trouxe boas notícias sobre a vossa fé e a vossa caridade” (1Ts 3,6), o Pe. John observou a ausência de “esperança” nessas boas notícias. A tríade usual de São Paulo de “fé, esperança e caridade” é reduzida a apenas “fé e caridade”, então o Pe. John refletiu sobre a possibilidade de que os tessalonicenses estivessem sem esperança.
Isso me fez pensar nas três irmãzinhas, as Santas Mártires Fé, Esperança e Caridade, que tinham 12, 10 e 9 anos, respectivamente, quando foram martirizadas, de modo que Esperança era a filha do meio. Se você conhece o termo “Síndrome do Filho do Meio”, talvez saiba que o filho do meio em uma família pode sofrer com abandono e desigualdade (real ou imaginária) em comparação com os irmãos. E estou refletindo que a esperança, no sentido da virtude cristã, muitas vezes é realmente negligenciada em nossos dias, quando notícias perturbadoras (seja no mundo em geral ou em nossa vida pessoal) podem facilmente desencadear em nós sentimentos de desastre iminente. Ou sentimentos de “desespero”, que vem das palavras latinas “de” (para baixo) + “sperare” (esperança), significando o abandono da esperança.
Esse estado da mente e do coração, o desespero, é considerado o “pecado” mais grave (que significa “errar o alvo” ou errar o objetivo), porque estamos perdendo todo o objetivo ou propósito de nossa jornada carregando a cruz quando nos desesperamos. E esse objetivo é o crescimento e a vida nova, que está sempre ao alcance, quando estamos experimentando as dores de parto de nossas grandes ou pequenas dificuldades neste mundo, em Cristo. Sempre “ansiamos” ou “esperamos” a ressurreição dos mortos e a vida do mundo que há de vir, como professamos no final do Credo, ao longo das vicissitudes de nossa caminhada carregando a cruz ao longo do tempo. E isso significa que temos esperança. É a esperança que alimenta a “perseverança”, que Hans Urs von Balthasar chamou de “o poder de esperar”. Esperamos as tempestades passarem, confiando (na fé) que Deus está presente e é verdadeiro; e nos importamos o suficiente com Deus, com nós mesmos e uns com os outros (na caridade), para ajudar a fazer a próxima coisa certa, mesmo nos momentos mais sombrios.
A esperança não é enfiar a cabeça em um buraco, nem um otimismo delirante, nem uma positividade tóxica, que é a coisa mais irritante do mundo. É uma visão clara tanto da Cruz quanto da Ressurreição, à medida que todo o Mistério de Cristo (como o livro do Pe. John Behr sobre tudo isso é intitulado) se desdobra todos os dias em nossas vidas. Não preciso perder a esperança toda vez que falho, ou digo a coisa errada, ou exagero na coisa certa, ou “erro o alvo” em certas responsabilidades ou relacionamentos. A esperança é uma energia divina que Deus derrama sobre mim, ao olhar por mim, abençoando-me com o tempo; o tempo “favorável” que é o agora, e que nos é dado como oportunidade e (em Cristo) promessa de mudança. Os fracassos e as derrotas, — também no grande panorama geopolítico de nosso mundo, — não são a derradeira palavra em nossa história. A derradeira palavra (e a primeira) é o chamado dignificante de Deus para nós, para seguirmos para onde Seu Filho está sempre conduzindo cada um de nós, por meio de Sua Via Crucis, e isso é para mais crescimento e mais vida. Amemo-nos uns aos outros, queridos amigos, e compartilhemos a esperança uns com os outros, confiando em nosso amoroso Deus para nos guiar nesta quinta-feira, o Dia dos Apóstolos. Amén!
Versão brasileira: João Antunes
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