“… Porque quem observa toda a lei mas falta num só mandamento torna-se réu de todos os outros. Pois aquele que disse: ‘Não cometerás adultério’, também disse: ‘Não matarás’. Se, pois, não cometeres adultério, mas matares, tornas-te transgressor da lei. Falai e procedei como pessoas que hão-de ser julgadas segundo a lei da liberdade. Porque quem não pratica a misericórdia será julgado sem misericórdia. Mas a misericórdia não teme o julgamento (κατακαυχᾶται ἔλεος κρίσεως).” (Tiago 2,10-13)
A palavra grega “ἔλεος”, traduzida para o português como “misericórdia”, significa muito mais do que apenas “uma não aplicação de punição”. É o transbordamento da bondade de Deus sobre nós e sobre o mundo inteiro; é a Sua maneira de ser e de agir em nosso mundo, e de compartilhar a Si mesmo conosco. A misericórdia é uma “lei” não escrita da natureza de Deus, na liberdade de Seu Espírito, que está além das palavras e “acima” da Lei de Deus escrita, no sentido de que a misericórdia é seu propósito supremo.
Sim, ao longo de toda a História da Salvação, Deus nos oferece os limites ou os “odres” da(s) lei(s), porque os limites são a estrutura na qual cada um de nossos aspectos é ordenado e protegido, para que possamos amadurecer e desenvolver o caráter único de nossa própria vocação, como o vinho em um odre, e para que possamos nos tornar úteis ao próximo e transmitir a bondade, a alegria e a “misericórdia” de Deus aos nossos semelhantes. Mas nosso “odre” é específico para cada um de nós, na era do Espírito, a era da Igreja, guiada não pela letra, mas pelo Espírito. Ele tanto nos restringe, nas formas e nos momentos em que precisamos ser restringidos (em nosso odre), quanto nos liberta para cuidar dos outros que precisamos cuidar, em Seu tempo. Isso não significa que nos tornamos capachos ou irresponsáveis como pais ou em outras vocações de autoridade; significa que somos orientados a “falar e proceder” assim, como diz o Apóstolo Tiago, não como aqueles que são julgados por opiniões meramente humanas, mas “como pessoas que hão-de ser julgadas segundo a lei da liberdade” de nosso Deus misericordioso.
Que hoje eu seja um vaso da misericórdia de Deus neste mundo, transmitindo-a ao próximo, como minha própria maneira de ser e agir com os semelhantes. Senhor, faze com que seja do Teu jeito hoje, nos pequenos aborrecimentos que possam surgir no meu dia. Senhor, tem misericórdia!
Feliz sexta-feira, queridos leitores!
Versão brasileira: João Antunes
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