QUANDO UM JOVEM MORRE

O justo, porém, ainda que morra prematuramente,
gozará de repouso.
Uma velhice venerável não consiste em longa vida
nem se mede pelo número de anos.
As cãs do homem são a prudência,
e uma verdadeira velhice é uma vida imaculada.
Tendo-se tornado agradável a Deus, foi amado por Ele
e, como vivia entre os pecadores, foi transferido por Deus.
Foi arrebatado a fim de que a malícia não lhe corrompesse a inteligência,
nem a astúcia lhe corrompesse a alma.
Pois o fascínio do mal obscurece o bem,
e a vertigem da paixão perverte uma mente sem maldade.
Chegado rapidamente à perfeição,
atingiu a plenitude de uma longa vida.
A sua vida era agradável ao Senhor,
por isso Ele se apressou em tirá-lo do meio do mal.
As pessoas viram mas não compreenderam
nem refletiram nisto:
que a graça e a misericórdia são para os seus eleitos
e que Ele intervirá em favor dos seus santos.
(Sabedoria de Salomão 4,7-15)

Há muitas “camadas” de significado nessa passagem fascinante, incluindo as messiânicas. Mas o que eu gostaria de refletir é sobre o fenômeno doloroso, abordado aqui, de uma pessoa jovem morrer “prematuramente”. Embora eu ache que, em geral, não aceitamos a morte; geralmente dizemos “não” à morte e nunca estamos realmente “prontos” para ela, quando ou como ela acontece, mesmo que seja esperada após uma enfermidade de longa duração, — porque fomos “projetados” por Deus para a vida eterna, — somos particularmente pouco receptivos a uma morte “prematura”, ou seja, a morte de um jovem.

Mas aqui as Escrituras nos oferecem algum consolo quanto ao significado oculto de uma morte “prematura”; um significado oculto para nós, mas evidente para Deus, em Seu perfeito conhecimento não apenas do passado e do presente de qualquer ser humano, mas também de seu futuro. Essa “sabedoria” de Salomão sugere que um jovem pode ser “arrebatado” porque “foi amado” por Deus, Que previu o “pecado” no futuro dessa pessoa. Portanto, ele ou ela “foi arrebatado/a a fim de que a malícia não lhe corrompesse a inteligência, nem a astúcia lhe corrompesse a alma”.

Estou refletindo sobre essa passagem por causa da história do Grande Mártir Demétrio de Salônica (celebrado hoje no Calendário Juliano Revisado) e de seu amigo, o Santo Mártir Nestor, ambos mortos ainda jovens. Estou refletindo sobre como é extraordinário que celebremos suas mortes não como relatos traumatizantes de mortes violentas e “prematuras” de dois jovens, mas como ocasiões de alegria. Reconhecemos, no caso deles, que Deus sabia o que estava fazendo, conduzindo-os para suas vocações únicas. Não sei se isso pode nos ajudar com o trauma que sentimos sempre que um jovem morre entre nós, mas tentarei manter essas palavras em meu coração hoje, com gratidão a Deus por todos aqueles que amamos e perdemos, “que a graça e a misericórdia são para os seus eleitos e que Ele intervirá em favor dos seus santos”. Pelas orações de Seus santos mártires, ó Salvador, salva-nos.

Versão brasileira: João Antunes

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