“Elevarei o cálice da salvação, invocando o nome do SENHOR.” (Salmo 116,13/115,4)
Esse versículo é relevante para as duas festas celebradas nesta quarta-feira: a da Megalomártir Bárbara (Calendário Juliano Revisado) e a da Entrada (ou “Condução” em eslavo, Vvedenie) da Theotokos no Templo (Calendário Juliano Tradicional). O verso é entoado nas festas da Theotokos como o Verso da Comunhão, porque conota o “cálice” do sofrimento, do qual a Santíssima Virgem deveria beber durante toda a sua vocação singular. Observe que a palavra “cálice” na Bíblia frequentemente significa sofrimento, como em “Pai, se quiseres, afasta de mim este cálice…” (Lucas 22,42).
Estou refletindo sobre o sofrimento que deveria ser suportado por Maria, de três anos de idade, e pela jovem Bárbara, que, juntamente com Juliana (que foi inspirada pelo destemor de Bárbara e acabou sendo martirizada juntamente com ela), “elevaram o cálice da salvação”. No caso de Bárbara, isso incluiu o desgosto de seu próprio pai, Dióscoro, que a mandou prender e depois a decapitou com suas próprias mãos. Antes de serem martirizadas, tanto Bárbara quanto Juliana foram levadas nuas pela cidade, em meio ao escárnio e aos gritos de raiva das multidões. Estou refletindo também sobre como a jovem Maria foi conduzida, não apenas ao Templo aos três anos de idade, sendo separada de seus pais, mas uma década mais tarde, quando estava grávida e seus pais haviam morrido, como ela foi conduzida a Belém, sentada em um jumento. Isso me faz lembrar de nosso Senhor, montado em um jumento, entrando em Jerusalém, onde morreria Sua morte — uma morte que esmaga a morte.
Como podemos compreender o “sofrimento inocente” descrito acima? Primeiro, vamos repensar a palavra “inocente”, que significa “inofensivo”, do latim in + nocere, que significa “não ferir/prejudicar”. E vamos esclarecer que a autodoação da Theotokos, de Bárbara e Juliana, e de seu Senhor, não foi de forma alguma “inofensiva”. Sua superação do medo, quando foram chamadas a “elevar o cálice da salvação” e testemunhar a Verdade, foi um sinal libertador que desferiu um duro golpe no medo meramente humano e naqueles que aterrorizavam povos inteiros por meio dele. “Este menino está aqui para queda e ressurgimento de muitos em Israel e para ser sinal de contradição…” (Lucas 2,34), como disse Simeão a Maria, quando ela O levou ao Templo.
Hoje celebramos a mistagógica autodoação da Theotokos, de três anos de idade, e de Bárbara e Juliana, em gratidão por seu testemunho. Elas testemunharam o Grande Fato de que há mais na vida e na morte do que o que os medos autopreservadores nos ditam. Graças Te dou, Senhor, pelas Santas Testemunhas entre nós. Por suas orações, ó Salvador, salve-nos!
Versão brasileira: João Antunes
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