Para os cristãos Ortodoxos, o sábado não é um dia de não trabalhar, como o sábado nos tempos do “Antigo” Testamento era. No entanto, é o sétimo dia da semana, quando nos recordamos com gratidão do “repouso” de Deus, com o qual Ele nos dignificou no sétimo dia. Seu próprio “repouso” foi dignificante para nós, pois foi um sinal de Sua confiança em nós, seres humanos, a quem Ele estava confiando Seu tipo de trabalho; o trabalho criativo de “Crescei e multiplicai-vos, enchei e dominai a terra. Dominai sobre os peixes do mar, sobre as aves dos céus e sobre todos os animais que se movem na terra” (Gênesis 1,28). Deus “repousou” de Seu trabalho criativo, dando-nos, a partir de então, o espaço ou a liberdade para sermos e agirmos de acordo com Sua imagem e semelhança. Isso inclui nossa participação no tipo de “repouso” de Deus.
O “repouso” com o qual Deus descansou não significa que Deus parou de trabalhar, como testifica o Filho de Deus: “O meu Pai continua a realizar obras até agora, e Eu também continuo” (João 5,17). Deus continua a “trabalhar” em, e com, Sua criação, em Seu repouso. Seu Espírito continua a “mover-se” sobre as turbulentas “águas” de nosso mundo material. E Deus nos envia Seu Filho Unigênito, Que chega para nos mostrar o caminho para (re)entrarmos em Seu repouso, mesmo enquanto “trabalhamos” — não da maneira mundana que nos entregamos, mas à Sua maneira. É a via Crucis, revelada no dia que precede o sábado, que é a sexta-feira ou “Paraskevi”, que em grego significa Dia da Preparação. O fato de carregarmos a cruz nos “prepara” para o verdadeiro repouso e nos conduz a ele, assim como a sexta-feira conduz ao sábado.
Isso significa uma nova maneira de ser, na paz que vem do alto, seja no trabalho, no lazer ou no descanso. Independentemente do que estejamos fazendo ou deixando de fazer, somos convidados a estar sempre “trabalhando” para obter o alimento de Sua graça. “Trabalhai, não pelo alimento que desaparece”, diz o Senhor, “mas pelo alimento que perdura e dá a vida eterna, e que o Filho do Homem vos dará; pois a este é que Deus, o Pai, confirma com o seu selo” (João 6,27). Em termos práticos, isso significa que devemos procurar ter cada momento, cada atividade, cada conversa, cada silêncio, cada pensamento, temperado com o “sal” da graça de Deus. Não precisamos ficar desanimados, pois estamos longe de ser perfeitos e nos desviamos desse propósito várias vezes ao longo do dia. Mas começamos em nosso momento de vigília, com uma oração simples e sincera e com a disposição de fazer a vontade de Deus no dia que se inicia. Podemos fazer uma breve “leitura iluminada”, ou seja, uma leitura que nos traga luz e não trevas, antes de começarmos a rolar a tela por algumas das “leituras tenebrosas” que estão sempre disponíveis em nossos telefones celulares.
Deus nos encontra no caminho, sempre que temos a disposição de nos (re)dirigirmos a Ele. Neste sábado de manhã, que eu não hesite em começar meu dia como Seu digno e confiável trabalhador entre trabalhadores, (re)dirigindo-me a Ele por meio de uma oração simples e sincera ao longo do dia. Que eu não perca a oportunidade de participar e transmitir Suas energias pacificadoras, que nos conduzem à nova vida que celebramos aos domingos. Feliz fim de semana, queridos amigos!
Versão brasileira: João Antunes
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