“Tu, que estás sentado nas alturas em um trono de fogo com Teu Pai eterno e Teu Espírito Divino, quiseste nascer na terra de Tua Mãe, a Virgem que não conheceu varão. Por isso foste também circuncidado como homem no oitavo dia. Glória, pois, aos Teus bondosos desígnios; glória à Tua economia, glória à Tua condescendência, ó único Filantropo!” (Tropário da Festa da Circuncisão do Senhor)
A festa da Circuncisão do Senhor, celebrada hoje por aqueles de nós que teimam em negar a invenção do telescópio, celebra vários temas cristológicos importantes, enfatizados repetidamente na hinografia dessa festa: 1. a própria encarnação (o nascimento da Virgem, o fato de Se encarnar); 2. o simbolismo do oitavo dia (da circuncisão); 3. o recebimento do nome Jesus (nesse mesmo dia); e 4. A obediência e a “condescendência” de Cristo à Lei.
O que não é um tema dessa festa, por mais surpreendente que isso possa parecer, é o sexo masculino de Cristo. Em nenhum lugar de qualquer hino dessa festa Seu sexo masculino é mencionado, acentuado ou celebrado, como seria de se esperar. Por exemplo, seria de se esperar pelo menos um ou dois hinos com o seguinte teor: “Rejubilem-se, todos os homens e meninos, o Senhor sente a sua dor!” — ou algo do gênero. Mas não.
A ausência do tema do sexo masculino de Cristo nessa festa (e em qualquer outro texto tradicional na teologia e liturgia Ortodoxas) pode parecer surpreendente para nós, quando muitos de nós interpretam que o sexo masculino de Cristo é essencial para o Seu sacerdócio; para o nosso sacerdócio cristão. Dizemos que o simbolismo ou a tipologia do sacerdócio é masculino e só pode ser simbolizado ou representado por homens, porque Cristo, nosso Sumo Sacerdote, era um homem.
Simbolicamente, em todo caso, sabemos que “todos os que foram batizados em Cristo, se revestiram de Cristo” (cf. Gálatas 3,27), como diz São Paulo com relação ao simbolismo dos batizados — não apenas homens batizados, mas também mulheres batizadas. O batismo se tornou o sinal de pertencimento ao povo de Deus na Nova Aliança, assim como a circuncisão foi esse sinal na Aliança de Abraão. Mas agora temos tanto homens quanto mulheres assinalados no Batismo, graças à cruz e à ressurreição de Cristo, que abrange tudo e remove o véu. Eu me pergunto se faz sentido negar a capacidade de homens e mulheres representarem simbolicamente o sacerdócio cristão, quando homens e mulheres já representam simbolicamente Cristo no Santo Batismo. Tendo sido “revestidos de Cristo”, não podem todos os batizados que têm a vocação para o ministério sacerdotal mais específico ser revestidos de suas vestes? Negamos às mulheres as vestes sacerdotais, mesmo depois de terem sido revestidas com as vestes do próprio Cristo, o que não faz muito sentido.
Enfim, esses são apenas alguns pensamentos de hoje, para reflexão, mas não para discussão. Graças Te dou, Senhor, por Te sujeitares à nossa vida e morte humanas, e até mesmo à circuncisão, a fim de abrir um caminho radicalmente novo para todos nós, em Ti. Feliz festa, amigos que seguem o Calendário Juliano Tradicional!
Versão brasileira: João Antunes
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