Para quem estiver se perguntando, estou bem. Sou a Irmã Vassa, uma monja rasoforo sob a jurisdição da Igreja Ortodoxa da Ucrânia.
Nos últimos dois anos, a hierarquia da Igreja Ortodoxa Russa fora da Rússia (ROCOR) tentou me silenciar sobre as questões relacionadas ao apoio explícito, e até herético, do Patriarca Cirilo à criminosa agressão russa contra os ucranianos. E a destituição não-canônica de clérigos sob sua jurisdição por “desobediência” à sua agenda anticristã e aos ensinamentos relacionados à “Guerra Santa”. Agora, a ROCOR emitiu um decreto (que me foi enviado em russo, usando a antiga ortografia russa pré-revolucionária, que é o único aspecto não-soviético do decreto) que tem o objetivo de me remover da condição de monja e me dizer como devo me vestir. Por alguma razão, ele foi publicado no site da ROCOR, talvez para assegurar ao Kremlin que a ROCOR não tem mais nada a ver comigo.
Como alguém que estudou o Direito Canônico Ortodoxo por décadas (e que constituiu um terço do meu exame de doutorado no Instituto de Teologia Ortodoxa da Universidade de Munique), e foi durante anos membro da Comissão de Presença Interconciliar do Patriarcado de Moscou para o Direito Canônico (e sua Comissão de Liturgia e Arte Sacra), eu não poderia ficar em silêncio sobre a disseminação litúrgica e canônica da ideologia do Patriarcado de Moscou dentro de nossa comunidade eclesiástica. Isso inclui a manipulação dos cânones da Igreja para forçar o clero a “obedecer” à agenda de Putin e do Patriarca Cirilo, e o uso da oração e simbolismo litúrgicos para justificar e promover a matança de pessoas inocentes. Não me tornei uma monja para isso. Não fiz nenhum voto para defender, representar ou ser “obediente” a isso, nem para encobrir esse fato, compartilhando do silêncio da hierarquia da ROCOR sobre isso.
Minha vocação, que é de Deus e não dos homens, é a de uma monja que vive e trabalha (e até mesmo recebeu a investidura do hábito para o status de rasoforo, que não requer a realização de votos solenes) fora de qualquer monastério, no “mundo”. Tenho vivido e trabalhado no “mundo” por 27 dos 34 anos de minha vida monástica. O que eu visto ou deixo de vestir é ditado pelo bom senso, como no caso de qualquer adulto que viva no mundo livre. Não consulto um bispo do outro lado do mundo a respeito disso, porque não sou deficiente mental.
Hoje dou graças a Deus por minha vocação e por Seu povo, a quem tenho o privilégio de servir das pequenas formas que sirvo, principalmente on-line, e que continua a apoiar inteiramente, por meio de financiamento coletivo, nossa pequena missão on-line do Coffee with Sister Vassa, que nunca foi apoiada pela ROCOR de maneira alguma. Deus abençoe a todos nós, neste momento de grande crescimento na fé, em nosso Senhor Jesus Cristo e em nosso Pai Celestial, que não abandona Sua Igreja pela graça abundante de Seu Espírito. Graças Te dou, Deus, por tudo isso.
Coloco aqui algumas fotos minhas, uma com meu hábito hoje e outra sem meu hábito (no ônibus a caminho de Kyiv na semana passada). Sou eu, Irmã Vassa, que estou nas duas fotos. Ninguém muda isso, nem qualquer roupa, nem qualquer decreto, — e certamente não o não-canônico e vergonhoso emitido recentemente por uma hierarquia da ROCOR que perdeu o rumo. Cristo ressuscitou, queridos amigos!
Versão brasileira: João Antunes
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