O SENHOR AMPLIA NOSSA VISÃO DE IGREJA

No final de semana passado, ao celebrarmos o Domingo da Samaritana, como fazemos anualmente, notei algo na leitura do Evangelho segundo São João – Capítulo 4 que não havia notado antes: A conversa com essa mulher não é apenas sobre ela ou para ela. Há também uma grande lição para os discípulos do Senhor, que vão à cidade para comprar “alimento”. Mas esse alimento acaba se tornando desnecessário, assim como a água do poço de Jacó se torna desnecessária, quando a Fonte da “água viva” e do Pão Nosso de cada dia Se manifesta e age; quando Ele fala em Espírito e verdade a uma forasteira com todos os requisitos inadequados: uma mulher samaritana (herética) que “tem” um homem que não é seu marido. Observe também que “o terreno que Jacó tinha dado ao seu filho José” (onde essa conversa transcorre) acabou sendo desnecessário para José, que prefigurava Cristo quando José se tornou o provedor do pão para seus irmãos e seu pai em uma terra distinta, onde todos encontraram alimento e um novo lar.

Como podemos identificar em nossa própria vida todos esses fatos bíblicos? Em nossa própria vida, talvez também estejamos confiando demais nos tipos de alimento e água que nossa “cidade” tem a oferecer. Falo isso no sentido de nosso alimento espiritual, que pode advir mais de nossas próprias cabeças do que da comunhão com Cristo em Espírito e verdade. Também podemos pensar (assim como os discípulos, quando trouxeram alimento para o Senhor) que podemos nutrir o Corpo de Cristo, a Igreja, com “nosso” tipo de alimento, a partir dos limites de nossa “cidade” concebida pelo homem, com suas limitações humanas. Refiro-me à nossa tendência de ver a nossa Igreja Ortodoxa como nossa cidade, nossa “polis”, isolada dos forasteiros por nossos conceitos, muitas vezes altamente politizados, sobre o que e quem é canônico ou não-canônico, quem ou o que deve ser permitido dentro do nosso “templo”.

Mas o mistério da Igreja, a Igreja una, santa, católica (universal) e apostólica, é aquele que expande nossa visão para além dos muros de nossa própria cidade para os campos ao redor, por meio do Espírito e da verdade. Como Cristo diz a Seus discípulos, quando eles voltam com o alimento e se sentem um pouco escandalizados por encontrá-l’O conversando com essa mulher, Ele também diz a nós: “Pois Eu digo-vos: Levantai os olhos e vede os campos que estão dourados para a ceifa” (João 4,35). Ele também disse à mulher samaritana para olhar além “deste monte”, onde os samaritanos adoravam, segundo a tradição de sua cultura, e até mesmo para além de Jerusalém: “Mulher, acredita em mim: chegou a hora em que, nem neste monte, nem em Jerusalém, haveis de adorar o Pai” (João 4,21).

Portanto, que eu levante meus olhos hoje e veja todos os lugares, pessoas e situações que encontro como “universais”, pela vinda do Filho de Deus ao nosso mundo. Ele pode iniciar uma conversa com o menor de nós, com os forasteiros, a qualquer momento, como no meio da nossa rotina, como fez com a samaritana. Que eu mantenha meus olhos e ouvidos abertos à Sua presença, enquanto oro um pouco durante toda a minha terça-feira: Senhor Jesus Cristo, Filho de Deus, dá-me essa água que só o Senhor tem, e graças Te dou por ela do fundo do meu coração.

Versão brasileira: João Antunes

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