“Estavam todos reunidos, quando lhe perguntaram: ‘Senhor, é agora que vais restaurar o Reino de Israel?’. Respondeu-lhes: ‘Não vos compete saber os tempos nem os momentos que o Pai fixou com a sua autoridade. Mas ides receber uma força, a do Espírito Santo, que descerá sobre vós, e sereis minhas testemunhas em Jerusalém, por toda a Judeia e Samaria e até aos confins do mundo’. Dito isto, elevou-se à vista deles e uma nuvem subtraiu-o a seus olhos. E como estavam com os olhos fixos no céu, para onde Jesus se afastava, surgiram de repente dois homens vestidos de branco, que lhes disseram: ‘Homens da Galileia, porque estais assim a olhar para o céu? Esse Jesus que vos foi arrebatado para o Céu virá da mesma maneira, como agora o vistes partir para o Céu’. Desceram, então, do monte chamado das Oliveiras, situado perto de Jerusalém, à distância de uma caminhada de sábado, e foram para Jerusalém…” (Atos 1,6-12)
É uma pergunta política esta que os discípulos fazem ao Senhor, logo antes de Sua ascensão: “É agora que vais restaurar (ἀποκαθιστάνεις) o Reino de Israel?”. O que lhes interessa é a restauração (apokatastasis) da justiça política para Israel, com seu próprio reino e com os mocinhos no comando, como nos bons velhos tempos. Agora, os vilões estavam no comando da vida política e religiosa, causando estragos e todo tipo de injustiça, como crucificar o Senhor. Acho que podemos ter perguntas semelhantes para Deus hoje, sempre que parece que os vilões estão no comando. E podemos “estar com os olhos fixos no céu”, esperando que Deus faça algo a respeito.
Mas Ele tem um trabalho para nós, pelo qual Ele restaurará não o reino que imaginamos, e sim a nós com uma força, pela qual seremos responsabilizados, quando “esse Jesus que vos foi arrebatado para o Céu virá da mesma maneira”. Esse trabalho envolve estar aberto para “receber uma força” do tipo que vem do Espírito Santo e ser Suas “testemunhas (mártires)… até aos confins do mundo”. Quando os discípulos desceram do monte, sua primeira tarefa, além de participarem da oração comunitária, foi eleger Matias para que “se torne, conosco, testemunha da Sua ressurreição” (Atos 1,22).
Ao celebrarmos hoje a Ascensão do Senhor, sou grata pelo trabalho que o Senhor nos confia, ao cuidarmos de nossas responsabilidades e “esperarmos o Prometido do Pai”, a força ou a graça do Espírito Santo, Que está sempre vindo no Pentecostes contínuo que é a vida da Igreja. Deixo de lado as frustrações políticas e acolho um pouco de perseverança, que Hans Urs von Balthasar chamou de “o poder de esperar”. Isso não significa sentar e não fazer nada, nem significa apenas olhar para o céu. Significa fazer a nossa parte do trabalho que nos foi dado, com o coração aberto para receber, para ser restaurado pela Sua força. Sejamos Suas testemunhas, meus amigos, e estejamos abertos para ser restaurados, pois somente Ele pode nos restaurar. Feliz Ascensão!
Versão brasileira: João Antunes
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