Celebramos os 318 Padres reunidos no 1º Concílio Ecumênico de Nicéia um domingo antes do Pentecostes, a Descida do Espírito Santo sobre os Apóstolos no 50º dia após a Páscoa. Por que celebramos esses Padres no domingo imediatamente anterior ao Pentecostes? Pela mesma razão que celebramos São Nicolau, participante deste Concílio, às quintas-feiras, chamada “Pempti” em grego, ou seja, o “quinto” dia da semana, que também é o dia da semana dos Apóstolos. É para acentuar a continuidade da Igreja dos Apóstolos com a Igreja dos Concílios.
O que simboliza o número CINCO, que é significativo tanto no simbolismo do Pentecostes (o 50º dia) quanto na quinta-feira (o Quinto Dia)? Na Bíblia, ele simboliza mais frequentemente o movimento dirigido e focado em Deus, juntamente com a graça do Espírito Santo, que torna esse tipo de movimento possível. No Quinto Dia da criação, Deus criou as criaturas mais velozes, os pássaros e os peixes. Ele também nos criou com cinco sentidos e com cinco dedos em cada um dos nossos pés e mãos, o que facilita a nossa capacidade de nos movimentarmos e agirmos de forma produtiva e criativa. Celebramos os Santos Apóstolos e os Padres como aqueles que se movimentaram para se reunirem dos quatro cantos da terra para discernir questões importantes relacionadas à fé e para difundir o Evangelho até aos confins da terra. Ressalto que nos hinos deste Domingo dos Padres, não há uma única palavra sobre os 20 “cânones” promulgados por este Concílio. A hinografia trata apenas da fé proclamada por este Concílio (e outros Concílios), junto com muitas palavras condenando nominalmente os hereges.
Em nossa época de paralisia ou crise da Igreja, não nos movemos para nos reunir para algo como um Concílio e/ou não nos ocupamos principalmente com a difusão do Evangelho ou com o discernimento de questões relacionadas à fé ou heresias. Em vez disso, parecemos focados em criticar duramente outros cristãos Ortodoxos, que creem exatamente na mesma fé que nós, mas que não concordam com nossas noções de “cânones” e “canonicidade”. Por causa disso, acho que poderíamos celebrar o Domingo dos 318 Padres com um sentimento de arrependimento. E por “arrependimento” não me refiro a uma auto-reflexão mórbida, desânimo ou outras emoções paralisantes que nos impedem de seguir em frente. Refiro-me ao “arrependimento” no sentido literal de “metanoia”, que significa uma mudança de pensamento ou uma mudança de foco. Podemos mudar nosso foco, abençoados como somos com a capacidade de mudança, graças aos nossos corpos físicos. Como João Damasceno observa em sua Exposição Exata da Fé Ortodoxa, os seres humanos são mais abençoados do que os anjos, precisamente por causa de nossa capacidade de mudança, graças à nossa fisicalidade e aos nossos cinco sentidos e mãos e pés acima mencionados. Os anjos, como criaturas incorpóreas, ficam presos no curso de ação que escolheram (quer tenham seguido Satanás ou decidido ficar com Deus), porque a sua incorporeidade os torna menos mutáveis. Mas estou a divagar.
Que celebremos o Domingo dos 318 Padres e o seu seguir em frente, caminhando juntos, para proclamar a fé no nosso Único, comum a todos nós, Senhor Jesus Cristo, Uno em essência com o Pai e o Espírito Santo. Ajuda-nos, Senhor, pelas orações dos Santos Padres do 1º Concílio Ecumênico, também a seguir em frente e a caminhar juntos, transformando-nos pelo Teu Espírito Santo.
Versão brasileira: João Antunes
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