“Na nona hora, ó Cristo Deus, / provaste a morte na carne por nossa causa: / mortifica nossa mente carnal / e salva-nos!” (Tropário da Nona Hora)
Era por volta das 16h desta terça-feira (portanto, durante a “Nona Hora” em termos litúrgicos, ou entre 15h e 18h no tempo comum), quando soube do ataque russo particularmente letal contra civis em Kyiv, ocorrido na noite anterior. Esta publicação trata de como eu estou processando essa notícia, à luz da prece da Nona Hora, caso isso possa ser útil para mais alguém. Não se trata de minimizar os horrores vividos em tempo real pelo heroico povo ucraniano — que eu apenas observo de longe, sob céus pacíficos. O que sei é: os ataques da última noite mataram 15 pessoas insubstituíveis, feriram outras 124, e muitas (incluindo crianças) estão “desaparecidas”, pois um prédio residencial inteiro desabou e os socorristas ainda estão escavando os escombros. Enquanto isso, o presidente dos EUA deixou inesperadamente a cúpula do G7 antes do previsto, cancelando o encontro que teria hoje com o presidente Zelensky à margem do evento. Trump, por sua vez, fez várias declarações durante a cúpula sobre a guerra na Ucrânia, chamando a expulsão da Rússia do G8 de um erro, sugerindo que mantê-la no grupo poderia ter evitado a invasão, e afirmou estar adiando novas sanções contra a Rússia.
Tendo lido todas essas notícias sombrias por volta das 16h, como mencionei acima, aqui está o pequeno raio de luz da Nona Hora que rompe minha “mente carnal”. Vale lembrar que a Nona Hora é o momento da morte — foi a hora em que Jesus morreu na Cruz, abandonado por quase todos, sendo zombado pelos que passavam; e então um soldado transpassou Seu lado, fazendo jorrar sangue e água. Durante todo esse tempo, Sua mãe esteve junto a Ele — pode-se dizer que, impotente, enquanto sua própria alma era transpassada de dor, como Simeão havia profetizado (Lucas 2,35). É mais ou menos assim que nos sentimos, como se sente a Mãe-Igreja, ao testemunhar, também impotente, o sofrimento e a morte de inocentes neste mundo. Mas: não desviamos o olhar, nem abandonamos o lado da Cruz. E tampouco nos juntamos aos que zombam do Cristo crucificado.
O sangue e a água que jorram da quinta chaga de Cristo, infligida em Seu lado ou costela após Sua morte (ou “sono”) na Cruz, são um sinal de esperança. Lembram a costela que Deus tira de Adão, depois de fazê-lo adormecer, para gerar uma nova vida — Eva, “a vivente”. Nosso Senhor, o Novo Adão, oferece Sua água viva e Seu sangue para nutrir a vida sempre nova de Sua Esposa, a Igreja. Ou seja, todos nós — mesmo enquanto Ele carrega as nossas feridas.
Sim, Ele conserva as chagas, inclusive a do lado, mesmo após a Ressurreição, como sabemos pela história de Tomé, o “incrédulo”. Por que isso nos consola? Porque significa que Deus não apaga as evidências das feridas infligidas aos Seus inocentes. E Sua justiça será feita — com os que insistem em infligir tais feridas, e com os cúmplices ou apoiadores dos que ferem, se não crerem e se arrependerem desses crimes.
Senhor ressurreto e ainda ferido, graças Te dou por carregares nossas feridas! “Mortifica nossa mente carnal” em tempos de angústia, concede a vitória sobre os bárbaros e salva Teu amado povo na Ucrânia.
Versão brasileira: João Antunes
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