«PAZ NA TERRA»?

E subitamente apareceu com o anjo uma multidão da milícia celeste, louvando a Deus e dizendo: ‘Glória a Deus no mais alto dos céus e paz na terra aos homens, objeto da vontade de Deus (en anthropois evdokias)!’” (Lucas 2,13s)

As palavras finais deste louvor angélico, revelado aos pastores por ocasião do nascimento de Cristo, costumam ser traduzidas de maneira imprecisa, por exemplo, como “paz na terra aos homens”. Deixando de lado o aspecto relacionado ao gênero dessa tradução em português, o problema maior é que ela distorce o que os anjos estão dizendo sobre a “paz” na terra. Eles não estão proclamando que o nascimento de Cristo inaugura paz na terra para todas as pessoas ou para todos os homens. Para Herodes e os que estavam com ele, por exemplo, o nascimento de Cristo não trouxe paz, mas o desejo de matar o Menino, na verdade, de matar muitas crianças.

O que os anjos estão dizendo é que a “paz” e a “vontade” de Deus estão sendo reveladas entre aquelas pessoas na terra que são, ou serão, “da” Sua vontade, que são, ou serão, abertas a acolher a “paz que vem do alto”, de “Deus no mais alto dos céus”, que nos enviou Seu Filho Unigênito, feito carne. O povo de Deus irá perturbar a “paz” e o status quo dos Herodes; eles serão obrigados a fugir dos Herodes perturbados, como fizeram a Santíssima Virgem, seu Filho e José para o Egito, ou sofrerão por seu testemunho da boa vontade e da paz de Deus diante de autoridades ímpias, sejam elas religiosas ou políticas, como acabou acontecendo com Jesus Cristo. Pessoas como o Deus-Homem serão vistas como criadoras de divisão, como ameaça à “paz” e à segurança dos construtores e apoiadores de Impérios de sua época.

Em nosso tempo, quando os construtores contemporâneos de Impérios falam tanto de “paz”, participando de “negociações de paz” enquanto praticam violência contra inocentes (como Putin faz implacavelmente na Ucrânia), percebamos que esses construtores de Impérios retratam suas vítimas como belicistas ou como desestabilizadoras do status quo que desejam impor. Mas não confundamos a “paz” dos Herodes com a “paz na terra aos homens, objeto da vontade de Deus”. Estas não podem assinar a “paz” dos Herodes, nem podem ou devem conquistar a boa “vontade” deles. Também em nossa vida pessoal, nós, como cristãos, não desfrutamos da “paz” ou da boa “vontade” daqueles que são hostis à paz e à vontade de Deus. Ao nos aproximarmos de Belém, “Pela paz que vem do alto e pela salvação de nossas almas, oremos ao Senhor!

Versão brasileira: João Antunes

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