
Neste domingo após o Natal (Calendário Juliano Revisado), na tradição Ortodoxa/Bizantina celebramos José, o Justo, junto com o Rei Davi e Tiago, o Irmão do Senhor. Fora este domingo, José praticamente não recebe muita “atenção” em nossa tradição, bem diferente da forte devoção a ele na piedade católico-romana moderna. Nunca ouvi falar de algum ortodoxo dando o nome de José ao filho, nem ele foi, até bem recentemente, desde o século XVII, representado em ícones bizantinos de forma separada, além daqueles que retratam eventos dos quais participou, como a Natividade, onde aparece curvado e perplexo com tudo aquilo, a Fuga para o Egito ou a Apresentação do Senhor.
Outra diferença entre Oriente e Ocidente, sobre José, é que na tradição Ortodoxa do Oriente ele é representado como um homem idoso na época do nascimento de Cristo, enquanto no Ocidente ele é jovem. A tradição oriental já aparece no Protoevangelho de Tiago, pela metade do século II, §9, em que José, viúvo, ao ser escolhido para cuidar da Virgem, responde inicialmente: “Eu tenho filhos e sou um homem velho, e ela é uma jovem. Tenho medo de virar motivo de riso para os filhos de Israel”. Portanto, não há nada de “novo” nisso, quero dizer, na ideia de vê-lo como um homem idoso.
Já a devoção a José no catolicismo romano é algo relativamente “novo” (o que não significa algo “ruim”), especialmente desde certos decretos papais que inseriram seu nome nas Orações Eucarísticas oficiais da Igreja Católica Apostólica Romana. Primeiro, em 1962, pouco antes da conclusão do Concílio Vaticano II, o Papa João XXIII acrescentou o nome de José à Oração Eucarística I, o que foi algo importante, já que essa oração não sofria mudanças havia séculos. E em 2013, o Papa Francisco decretou que seu nome também fosse incluído nas outras três principais Orações Eucarísticas.
O que é ressaltado na devoção católico-romana a José é:
1. Ele é modelo de “vida oculta”, da “vida comum, cotidiana e de trabalho”. Nenhuma palavra dita por ele é registrada na Escritura, mas vemos sua obediência imediata à vontade de Deus, revelada a ele em sonho.
2. Ele também é celebrado como patrono e protetor da Igreja, assim como foi patrono e protetor da Santíssima Virgem.
Tanto a Igreja Ortodoxa quanto a Igreja Católica Romana ensinam a virgindade perpétua da “Sempre Virgem” (Aeiparthenos, Приснодева) Maria, significando que ela não “conheceu” homem algum, incluindo José, antes, durante ou depois de se tornar Mãe de nosso Senhor. José foi casado antes de ser desposado com a Theotokos, e tinha filhos de seu primeiro casamento, o que explica como Jesus tinha “irmãos” mencionados na Escritura.
Pelas orações de José, o Justo, e da Santíssima Theotokos, cuja vocação única ele guardou e protegeu, que o Senhor nos ajude a cuidar das vocações uns dos outros e nos abençoe enquanto fazemos isso. Amén!
Versão brasileira: João Antunes
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