SOBRE CELEBRAR O ANO NOVO

Na verdade, nada começa ou termina no dia 1º de janeiro, exceto a data. É o meio, não o começo, nem do Ano Litúrgico Eclesiástico, nem de qualquer estação do ano. Isso acontece porque os sistemas de calendário que usamos hoje foram modificados muitas vezes ao longo da história; o próprio mês de janeiro, junto com fevereiro, foram acrescentados, há muito tempo, ao calendário romano, que por séculos tinha apenas dez meses. Então, por que “celebrar” (palavra que significa “reunir-se para honrar”) o Ano Novo? No dia 1º de janeiro, no Calendário Litúrgico Bizantino/Ortodoxo, celebramos a Circuncisão do Senhor e São Basílio Magno (Calendário Juliano Revisado), mas a minha pergunta é: importa que também celebremos a chegada do Ano Novo/1º de janeiro?

Experimentamos apenas uma mudança: no número do ano e do mês em que nos encontramos. Isso nos lembra que números ou símbolos em nossas vidas importam, especialmente os números pelos quais organizamos o nosso tempo. Quando Deus formou o tempo no Quarto Dia da Criação, criando corpos físicos (planetas e estrelas) que se moviam no espaço de forma previsível, regular e, importante, de maneira mensurável, Ele o fez para “servirem de sinais, determinando as estações, os dias e os anos”, como diz a Bíblia (Gênesis 1,14b). Somos nós, seres humanos, que somos chamados a ler esses “sinais”, ordenando nossos próprios movimentos e planos dentro da estrutura dos “tempos” do dia e da noite, atribuindo números a cada “tempo”. Isso nos mantém sãos, saber que hora é, que ano é, que mês é. Sentimo-nos um tanto desorientados quando perdemos a noção do “tempo”, que envolve um número, um símbolo. Portanto, esses números são importantes, até vitais, para nossa sanidade. Além disso, para pessoas de fé, sempre foi importante celebrar tempos específicos e “lê-los” à luz de nossa tradição de fé. Temos orações e comemorações especiais ligadas a cada Hora do dia e da noite e a cada dia do ano. Ou seja, cada Hora e cada dia são “simbólicos”, cheios de significado inspirador de fé, quando prestamos atenção ao significado que a tradição lhes atribui.

Na véspera de Ano Novo, saudamos um símbolo, um número. Desta vez, é 2026. Em si mesmo, o número não tem significado, seu significado está nos olhos de quem o contempla. Nós, como pessoas de fé, podemos lançar sobre ele a luz de nossa fé, podemos assumi-lo e torná-lo nosso amigo, preenchendo-o com nossa Esperança, enquanto “esperamos/ansiamos a ressurreição dos mortos e a vida do mundo que há de vir”, como professamos ao final do Credo. Mesmo quando a esperança e a fé são praticamente contraculturais em nosso tempo, quando estar deprimido, irado e com medo parece uma virtude, podemos escolher olhar para frente com esperança e fé em nosso Senhor crucificado e ressurreto, que é Aquele que “vence” (NIKA). Isso não significa ser irrealista ou enfiar a cabeça num buraco ou estar com ela nas nuvens. Significa fazer uma escolha consciente, prestar atenção à presença viva, entre nós, d’Aquele que “é”. Ele está sempre conosco e, por meio de nós, com o nosso mundo atribulado: “Eu estarei sempre convosco até ao fim dos tempos” (Mateus 28,20b), Ele diz. Graças Te dou, Senhor, por nos dignificar com Tua presença neste último ano e por Teu compromisso de fazê-lo também no próximo. Amemo-nos uns aos outros, queridos amigos e inimigos, e escolhamos celebrar o Ano Novo com fé e esperança.

Versão brasileira: João Antunes

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