“Caríssimos, não deis fé a qualquer espírito, mas examinai se os espíritos são de Deus, porque muitos falsos profetas se levantaram no mundo. Nisto se reconhece o Espírito de Deus: todo espírito que proclama que Jesus Cristo se encarnou é de Deus; todo espírito que não proclama Jesus esse não é de Deus, mas é o espírito do Anticristo de cuja vinda tendes ouvido, e já está agora no mundo. Vós, filhinhos, sois de Deus, e os vencestes, porque o que está em vós é maior do que aquele que está no mundo.” (1 João 4,1-4)
Proclamamos que Jesus Cristo “se encarnou”. Não como fizeram os antigos hereges conhecidos por “docetistas” (do verbo grego “dokeo” que significa “parecer”), que ensinavam que Cristo não tinha um corpo real, físico, mas apenas nos “parecia” ter um, para o nosso benefício; e nem como certos hereges atuais, que veem a Cristo como um útil “arquétipo”, criado pela psique humana a fim de nos ajudar a entender e superar o grande “psicodrama” da existência humana. Não importa, dizem essas pessoas, se Ele “realmente” veio até nós, historicamente (ou seja, “encarnado”), porque Ele é uma boa ideia em qualquer caso.
Este é o espírito do “Anticristo” (ou seja, “em vez de Cristo”, ou substituto de Cristo), São João Evangelista nos diz, em termos incertos. Ele é um substituto sem sal e sem luz da fé transmitida a nós, na qual realmente “importa” que Jesus Cristo “se encarnou”. Caso contrário, a comunhão real, física, de Seu carne e sangue, e nossa participação física em Sua morte e ressurreição nas águas regenerativas do batismo e no restante de nossa vida sacramental da Igreja, seria apenas outro conjunto de ferramentas de “auto-ajuda” que criamos para nós mesmos, ao invés da Auto-oferta de Deus de Sua vida por nós, para que possamos compartilhar na vida d’Ele, como Ele compartilhou na nossa, encarnado. O que nos é dado a compartilhar, é o grande “Theodrama” (como Hans Urs von Balthasar assim chamou) da História da Salvação, – e não apenas um “psicodrama” que criamos em nossas mentes, como se pudéssemos nos salvar a nós mesmos; como se “nós” tivéssemos criado Cristo e não o contrário. “Se Cristo não ressuscitou”, São Paulo nos recorda, “é vã a nossa pregação, e também é vã a vossa fé.” (1 Coríntios 15,14). Então que eu não me afaste do dom de Deus, transmitido a nós por “uma grande nuvem de testemunhas” para Sua revelação de Si mesmo a nós, ao longo dos tempos e que eu não aceite o dom das meditações meramente humanas em vez disso.
Versão brasileira: João Antunes
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