“… eis aqui uma prova brilhante de amor de Deus por nós: quando éramos ainda pecadores (ἔτι ἀμαρτωλῶν ὄντων ἡμῶν / еще грешником сущим нам), Cristo morreu por nós. Portanto, muito mais agora, que estamos justificados pelo seu sangue, seremos por ele salvos da ira. Se, quando éramos ainda inimigos (ἐχθροὶ ὄντες / врази бывше), fomos reconciliados com Deus pela morte de seu Filho, com muito mais razão, estando já reconciliados, seremos salvos por sua vida.” (Romanos 5,8ss)
Deixamos de ser “pecadores” depois de estarmos “reconciliados com Deus” no Santo Batismo? Não. Mas deixamos de ser Seus “inimigos” confessos, isto é, estarmos propositalmente lutando contra o(s) propósito(s) de Deus com tudo aquilo que temos. É por isso que, nas orações tradicionais da Igreja, estamos constantemente nos chamando de “pecadores”, mas não de “inimigos”. Somos desviados do caminho do propósito de Deus para nós, repetidas vezes, e “erramos o alvo” ou “pecamos”, mas depois voltamos, através do arrependimento, para “Sua vida”, que Ele continuamente oferece a nós em Seu Corpo e Sangue, “para a vida do mundo”.
Por que estou apontando isso? Porque uma imagem distorcida do “antes” e “depois” do Santo Batismo (e outros Mistérios) pode ser bastante prejudicial para minha abordagem diária de estar, viver e crescer em Cristo. Posso perder a fé no poder dos “mistérios” ou “sacramentos” da Igreja, se eu tiver algum tipo de visão não-histórica deles. Deus não nos “redimiu” em um momento, com o agitar de uma varinha mágica, mas o faz dentro da História da Salvação — a nossa própria, pessoal, e a de toda a humanidade. Na realidade histórica de nossas próprias jornadas carregando a cruz, em nosso próprio contexto histórico, somos sempre “trabalhos em andamento”. E vivemos nossa bela Tradição vivificante não apenas em seu “mistério” imutável, mas também em sua “história” mutável, à qual inclui nosso próprio “pecado”, que é constantemente redimido e curado no trabalho contínuo da Igreja. Portanto, que eu não desanime hoje, nos momentos em que mais recentemente “errei o alvo”, mas que eu “seja salvo”, ou “feito completo de novo”, por vir a meu Senhor em arrependimento e oração sinceros. Senhor, Jesus Cristo, Filho de Deus, tem piedade de mim, pecador.
Versão brasileira: João Antunes
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