Sacerdote (secretamente): “Ainda e muitas vezes prosternamo-nos ante Vós e Vos suplicamos, Vós que sois Bom e Amigo dos homens, ouvindo a nossa oração de purificar nossas almas e nossos corpos de toda mancha, na carne e no espírito. Dai-nos apresentarmo-nos ao Vosso santo altar, sem pecado e sem condenação (ἀνένοχον καὶ ἀκατάκριτον). Concedei também, ó Deus, aos que conosco oram o crescimento na vida (προκοπὴν βίου), na fé, na ciência espiritual (συνέσεως πνευματικῆς). Dai-lhes, Vos adorarem assiduamente, com temor e amor, participarem dos Santos Mistérios, sem pecado, sem condenação (ἀνενόχως καὶ ἀκατακρίτως) e merecerem o Vosso reino celeste.” (Segunda Oração dos Fiéis, Divina Liturgia de São João Crisóstomo)
Alguns momentos antes do coro cantar o Hino Querubínico, o sacerdote faz essa oração em voz baixa, para que todos nós, que com ele “oramos”, recebamos “crescimento na vida, na fé e na ciência espiritual” e participemos da Santa Comunhão “sem pecado, sem condenação”. Todas essas bênçãos andam de mãos dadas.
Nosso “crescimento na vida”, em nossa vida cotidiana, biológica, significa progredir em nossas responsabilidades diárias, de acordo com nossa “vocação” ou chamado de Deus, para servir a Ele e ao próximo em, e no contexto de, nosso lugar próprio específico, caráter, nosso passado, dons, etc., neste mundo. Essa “vocação/chamado”, ou voz de Deus em nossas vidas, é algo à qual respondemos em nossas “responsa-habilidades” (ou nossas “habilidades de resposta” ao chamado de Deus), em “fé e ciência espiritual”, discernindo, dia a dia, o que exatamente devemos fazer, e ser, em nossa existência diária.
Parte disso é participar da Santa Comunhão “sem pecado, sem condenação”. Mas de que “pecado” e de que “condenação” estamos falando? Cristo já não assumiu todas as nossas trevas e pecado, em Sua oferta amorosa, perdoadora e auto-oferecida na cruz? Sim, assumiu. “Pai, perdoa-lhes”, disse Ele, “pois não sabem o que fazem” (Lucas 23,34). De fato, Deus não tem “problemas de ira” para conosco; Ele já nos perdoou! O “pecado” e a “condenação” de que estamos falando aqui não são para com Ele, mas para conosco mesmos. Podemos carregar tanto o “pecado” (um sentimento de culpa/dívida) quanto a “condenação” em nossa atitude em relação a nós mesmos e ao próximo, que talvez não desejamos simplesmente perdoar. Portanto, sou eu, e não Deus, que bloqueia minha comunhão com Ele “sem culpa, sem condenação”. Preciso perdoar, a mim e ao próximo, a fim de abrir caminho para a comunhão com Ele e ter um verdadeiro “crescimento na vida”.
Então, que eu “cresça” hoje, em “vida, fé e ciência espiritual”, através da graça do perdão, disponível e oferecida a mim, por um Deus que perdoa e Se auto-oferece. “E perdoa-nos as nossas dívidas como também nós perdoamos aos nossos devedores”, digo a Ele hoje, pois é tudo o que Ele pede de mim: Perdoa teus “devedores”, inclusive a ti mesmo, para que possas estar em sintonia comigo e te juntes a mim no perdão que já tenho para todos vós.
Versão brasileira: João Antunes
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