“Depois de os soldados crucificarem Jesus, tomaram as suas vestes e fizeram delas quatro partes, uma para cada soldado. A túnica (χιτὼν), porém, toda tecida de alto a baixo, não tinha costura. Disseram, pois, uns aos outros: ‘Não a rasguemos, mas deitemos sorte sobre ela, para ver de quem será’. Assim se cumpria a Escritura: Repartiram entre si as minhas vestes e deitaram sorte sobre a minha túnica (Sl 21,19).” (João 19,23s; Salmo 21/22,19)
Nesta sexta-feira, dia da crucificação, vou refletir um pouco sobre este detalhe humilhante da paixão de meu Senhor: a divisão de Suas “vestes” (roupa exterior) e o sorteio de Sua “túnica” (a roupa de baixo), a remoção da qual deixou Seu corpo nu.
As roupas de Cristo eram as de um judeu comum de Seu tempo, exceto que Sua “túnica” era sem costura (um detalhe registrado apenas no Evangelho de João), como as túnicas dos sumos sacerdotes. Há muito a ser dito sobre as vestes de Cristo, mas observarei apenas o seguinte, para contemplação por hoje: Meu Senhor Se humilhou, ao vestir roupas. Desde o tempo que Deus vestiu amorosamente Adão e Eva com “vestes de pele”, porque eles perceberam que estavam nus após o pecado (Gênesis 3,21), as roupas humanas se tornaram um sinal de humildade e autoconhecimento.
Mas o Deus-Homem transformou o significado de nossas roupas, vestindo-as em Seu corpo sagrado e sem pecado, e sendo despido: “…sendo exteriormente reconhecido como homem, humilhou-se ainda mais, tornando-se obediente até a morte, e morte de cruz” (Filipenses 2,8), quando Suas roupas foram tomadas e repartidas entre Seus carrascos. Ele foi despido em Sua crucificação, para ser “revestido de majestade” (Salmo 92/93,1), — e para nos revestir com Sua majestade — em Sua ressurreição.
Quaisquer que sejam as roupas que eu vista hoje, sou recordado do fato precioso e simples de que meu Senhor usava roupas e foi despido de roupas por minha causa. Minhas roupas “importam” e têm novo significado, nova dignidade, n’Ele, em Seu único Corpo: “Todos vós que fostes batizados em Cristo”, me recorda o apóstolo, “vos revestistes de Cristo” (Gálatas 3,27). Glória a Ele.
Versão brasileira: João Antunes
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