“Senhor e Mestre de minha vida,
afasta de mim o espírito de preguiça (ἀργίας),
de abatimento (περιεργίας), de domínio, de loquacidade (ἀργολογίας),
e concede a mim, teu servo, um espírito de integridade (σωφροσύνης),
de humildade, de paciência e de amor.
Sim, Senhor e Rei,
concede ver meus pecados e não julgar meus irmãos,
porque és bendito pelos séculos dos séculos. Amén.”
(Oração Quaresmal de Santo Efrén)
Um dos grandes paradoxos da jornada carregando a cruz (sendo a própria cruz o maior paradoxo, como algo que traz vitória através da derrota), é que eu aprendo a abraçar o Espírito de Deus, de integridade, humildade, paciência e amor, por meio do confronto, e do afastamento, dos “espíritos” de oposição, como a preguiça [ociosidade], o abatimento [desânimo], o domínio [amor pelo poder] e a loquacidade [palavras vãs]. É por isso que estes “espíritos” nocivos são mencionados em primeiro lugar na Oração Quaresmal de São Efrén, para que eu possa professar a minha decisão, o meu desejo, de me afastar deles.
Este processo de aprendizagem ou crescimento para cima, para a luz e a paz, enquanto certas vozes me chamam para baixo, para as trevas e o caos, é muitas vezes doloroso (outro paradoxo). Por exemplo, uma abordagem “integral” da minha vida, da minha vocação dada por Deus, significa seguir esse chamado canalizando o “todo” do que eu sou aos olhos de Deus, com “todos” os meus dons, os anseios dados por Deus, o caráter, os antecedentes, os desafios e as deficiências, para Ele, “fazendo” o que e como Ele me chama a “fazer”. Mas o fazer “integral” é desafiado pela fragmentação, quando os desejos e dons dados por Deus são “chamados” por outras vozes a assumir uma vida própria, fora de Deus e de Sua visão de mim. O fazer “integral” é particularmente desafiado pela “preguiça” (“a-ergia”, do “a” ou o alfa-privativo que significa “não” + “ergo” que significa “fazer” = ociosidade), que significa “não” fazer o que eu deveria estar fazendo; e o “abatimento” (“peri-ergia”, de “peri” que significa “aquém” + “ergo” que significa “fazer” = desânimo), que significa fazer “aquém” do âmbito da minha vocação. Se abraço esses espíritos, “erro o alvo” da minha existência (isto é, eu “peco”), perdendo de vista o meu propósito imaginado por Deus.
Por outro lado, se eu me afastar dessas vozes, que podem envolver dor, como romper um relacionamento ou uma atividade nada saudável, eu cresço em compreensão e conhecimento do meu eu e o meu propósito imaginado por Deus. Ou seja, eu me “vejo” mais claramente. É por isso que a oração acima citada termina com estas palavras: “Sim, Senhor e Rei, concede ver meus pecados e não julgar meus irmãos, porque és bendito pelos séculos dos séculos”. Amén!
Versão brasileira: João Antunes
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