O “SILÊNCIO” DO SÁBADO SANTO

Aquele que se encerra nas profundezas é contemplado morto, / Envolto em linho fino e especiarias. / O Imortal é deitado num túmulo como um homem mortal. / As mulheres vieram para O ungir com mirra, / Lamentando amargamente e chorando: / ‘Este é o sábado mais abençoado / No qual Cristo adormeceu. Ele ressuscitará ao terceiro dia!’”. (Kontákion do Sábado Santo)

Hoje, neste “sábado mais abençoado”, Cristo “está adormecido” no Sepulcro, enquanto aqueles que O sepultaram “descansam”, de acordo com o mandamento (Lucas 23,56). Mas o silêncio do Sábado Santo está repleto de atividade invisível e vivificante, pois o Criador de todas as coisas visíveis “e invisíveis” está ocupado trabalhando, “encerrado nas profundezas”. O que é que isso significa?

Conforme Ele é “contemplado morto”, enterrado nas profundezas da terra, o Seu trabalho não está terminado. Ele vai mais longe, em nossas profundezas, em nosso inferno, para acabar com o seu domínio sobre todos nós. Cristo realmente morre uma morte física, mas “não era possível que ela o retivesse em seu poder” (Atos 2,24), como Doador da Vida. Ele faz uma pausa na morte, passando por ela, mas Ele agora desce ao inferno como Aquele já triunfante, como uma surpresa muito desagradável para a morte e seus servos. Hoje Ele abre a saída da morte e das trevas, para mim e para todos nós; na verdade, ainda morremos uma morte física, como Ele morreu, mas uma semente “não recobra vida, sem antes morrer”, como São Paulo me lembra (1 Coríntios 15,36).

Que eu hoje fique próximo de Seu Sepulcro vivificante, contemplando o sono vivificante d’Aquele que agora faz por mim o que eu não poderia fazer por mim mesmo: Ele “se encerra nas profundezas”, para que não sejam mais o poço sem fundo que eram antes, engolindo-nos. Não, n’Ele e com Ele o nosso sofrimento é transfigurado numa jornada vivificante rumo a uma nova vida. “Onde está, ó morte, a tua vitória? Onde está, ó morte, o teu aguilhão?” (1 Coríntios 15,55). Àquele que está adormecido hoje, tragando minha morte em vitória, dou toda a glória aqui e agora, e pelos séculos dos séculos. Amén.

Versão brasileira: João Antunes

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