“Cheio do Espírito Santo voltou Jesus do Jordão, e foi guiado pelo Espírito no deserto durante quarenta dias, sendo tentado pelo Diabo. Nada comeu nesses dias; mas passados eles, teve fome. Então lhe disse o Diabo: ‘Se és Filho de Deus, manda que esta pedra se torne em pão’. Respondeu-lhe Jesus: ‘Está escrito que não só de pão viverá o homem’.” (Lucas 4,1-4)
Jesus estava, de fato, “com fome”. Ele, de fato, “precisava” de algo para comer. Ele também “podia” prover pão para Si mesmo no deserto, porque isto estava dentro do Seu poder. No entanto, Ele rejeita a sugestão sedutora do diabo, de transformar uma pedra em pão. Por quê?
Porque é tentação do diabo. E Cristo está mostrando-nos que as nossas necessidades físicas, dadas por Deus, bem como as nossas capacidades dadas por Deus, não devem ser abordadas fora de Deus, como se tivessem uma vida própria. Somos chamados a treinar e exercitar as nossas necessidades e capacidades de uma forma centrada em Deus, como Deus quer, e não como o diabo quer. “Asceticismo”, da palavra grega “ἄσκησις”, que significa “exercício, prática, treino”, ao qual nos dedicamos agora durante a Quaresma, é uma forma de treinar e dirigir as nossas necessidades humanas e capacidades divinas para o propósito e vontade de Deus, com o Seu propósito e vontade em mente. Ao ficarmos um pouco mais com fome e vulneráveis, através do jejum, tornamo-nos mais atentos a como e quando respondemos às nossas várias fomes, tanto físicas como espirituais.
Que eu sinta um pouco de fome hoje, de uma forma centrada em Deus. E quando me alimentar, que eu esteja atento a “receber” a minha comida, em vez de a comer apenas, de acordo com uma vontade que não é de Deus. “Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça, porque eles serão fartos” (Mateus 5,6).
Versão brasileira: João Antunes
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