A “ESPIRITUALIDADE” DO JEJUM

A serpente era o mais astuto de todos os animais do campo que o Senhor Deus tinha formado. Ela disse à mulher: ‘É verdade que Deus vos proibiu comer do fruto de toda árvore do jardim?’. A mulher respondeu-lhe: ‘Podemos comer do fruto das árvores do jardim. Mas do fruto da árvore que está no meio do jardim, Deus disse: ‘Vós não comereis dele, nem o tocareis, para que não morrais’.’” (Gênesis 3,1ss)

Conforme o Jejum da Natividade prossegue, estou refletindo sobre o “lugar” que a comida concreta, física, tem dentro da “espiritualidade” da tradição de jejum de nossa Igreja. Porque às vezes alguém escuta uma opinião que não é, ou não deveria ser, “realmente”, a respeito do alimento, mas a respeito de considerações “mais espirituais”. Talvez isso seja por causa das conotações enganosas das palavras “espiritual/espiritualidade”, que parecem excluir o “corpo” e todas as coisas materiais, inclusive alimentos, do “espírito”.

Mas se por “espiritualidade” estamos nos referindo à nossa ligação com Deus, então a tradição judaico-cristã oferece uma compreensão muito mais física do termo. Inclui todo o ser humano, assumido pelo nosso Senhor Jesus Cristo em Sua Encarnação, quando “o Verbo se fez carne” (João 1,14). Não só a nossa “Queda” ligada à comida física, ou como escolhemos nutrir nossos corpos, contrariamente ao mandamento de Deus, (ver a citação acima), mas assim é nossa Redenção ligada à Eucaristia, na qual escolhemos “tomar e comer”, e também “beber”, do Corpo e Sangue de Cristo, como Ele ordenou (Mateus 26,26ss).

Então, que eu preste atenção às minhas escolhas alimentares hoje, e tome amoroso cuidado para com meu corpo, como cuido de minha alma, neste alegre período de jejum antes do Natal. Porque Deus prestou atenção a mim por completo, Sua amada criação, estabelecendo limites saudáveis tanto para a minha alma quanto para o meu corpo, desde o princípio dos tempos.

Versão brasileira: João Antunes

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