OS TRÊS SANTOS JOVENS

Ó três vezes bem-aventurados,
não adoraste ídolo feito pela mão do homem (χειρόγραφον εἰκόνα),
mas, escudando-vos na essência indescritível (ἀγράφῳ οὐσίᾳ)
permaneceste de pé no meio de um fogo insuportável
e clamastes a Deus dizendo: ‘Vem ó Compassivo,
apressa-te em nos auxiliar, Tu que és bondoso
e podes tudo o que queres!’
(Kondakion do Domingo dos Ancestrais do Senhor)

Os “três vezes bem-aventurados” são os Três Santos Jovens: Sidrac, Misac e Abdênago, parentes do Profeta Daniel da tribo de Judá, levados com ele e outros judeus para o cativeiro babilônico. O rei Nabucodonosor jogou os três jovens em uma fornalha ardente, (na qual eles permaneceram famosamente ilesos), depois de se recusarem a adorar uma estátua de ouro de Nabucodonosor, que ele havia mandado construir e ordenado ao povo adorar (Daniel 3).

Por que esta história recebe tanta atenção na tradição litúrgica de nossa Igreja, e especialmente nas semanas anteriores ao Natal? Porque ela representa a encarnação de nosso Senhor Jesus Cristo, em vários níveis. Primeiro, ela reflete a interpretação de Daniel do sonho do rei Nabucodonosor (Daniel 2,31-35), em que uma estátua feita de metais caros foi destruída por “uma pedra [que] se descolou da montanha, sem intervenção de mão alguma”. A Igreja compreende esta “pedra” como Jesus Cristo, chamado na hinografia da nossa Igreja, “a pedra não talhada por mãos” (λίθος ἀχειρότμητος / камень нерукосечный), da “montanha” que representa a Santíssima Virgem. O poder de Sua vinda a nós na carne destrói o “poder” das falsas divindades, “feitas pela mão do homem”. A fé dos três jovens, no verdadeiro Deus, supera o “poder” e as chamas flamejantes da falsidade de Nabucodonosor, prefigurando a vitória definitiva de Jesus Cristo, nosso Senhor que pisa a morte. E, segundo, a fornalha ardente, na qual os três jovens permanecem ilesos, representa o nascimento da Virgem, porque a virgindade da Theotokos permaneceu intacta, e ela — ilesa, mesmo depois de receber em seu ventre, e de dar à luz, o “fogo devorador” Que é o Próprio Deus (Deuteronômio 4,24).

Enquanto continuamos a dirigir-nos para Belém, nesta jornada do Jejum da Natividade, digo: Graças Te dou, Senhor. Graças Te dou por ter vindo até nós, como uma Criança entre Seus filhos; entrando na “fornalha ardente” do nosso mundo, e tornando-a segura e até mesmo salvífica para nós. “Apressa-Te em nos auxiliar, Tu que és bondoso e podes tudo o que queres!”

Versão brasileira: João Antunes

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