O INÍCIO DA SANTA E GRANDE QUARESMA

Ouve, ó céu! E presta ouvidos, ó terra! Pois o Senhor falou. Filhos Eu gerei e exaltei; porém eles rejeitaram-Me. O boi reconheceu quem o comprou; e o burro a manjedoura do seu senhor; mas Israel não Me conheceu; e o povo não Me compreendeu. […] A Minha alma odeia jejum e repouso e as vossas luas novas e as vossas festas. Tornastes-vos para Mim uma saciedade, e já não perdoarei os vossos erros. Quando estenderdes as mãos até Mim, desviarei os Meus olhos de vós. Ainda que torneis cheia a súplica, não vos escutarei. Pois as vossas mãos estão cheias de sangue. Lavai-vos, tornai-vos puros. Removei as iniquidades das vossas almas diante dos Meus olhos. Cessai as vossas ações iníquas; aprendei a fazer o bem. Procurai julgamento, salvai o injustiçado; defendei o órfão e sede justos para com a viúva. E vinde e julguemos — diz o Senhor. Ainda que os vossos erros sejam como púrpura, branqueá-los-ei como neve; ainda que sejam como escarlate, branqueá-los-ei como lã.” (Isaías 1,2s.13b-18, cf. Septuaginta – tradução ao português por Frederico Lourenço)

Esta é uma das leituras de hoje, o primeiro dia da Quaresma. E quão inesperada é esta leitura. Deus diz-nos, entre outras coisas: “A minha alma odeia jejum”. Que tipo de jejum é este que a alma de Deus “odeia”? O jejum do tipo que está sem ligação com Ele e com o Seu propósito, que é “remover as iniquidades” das nossas almas e procurar “julgamento” e “salvação” para aqueles “injustiçados”.

Deus procura fazer-Se “conhecido” por nós, para que nós “venhamos e julguemos”, isto é, e raciocinemos juntos, com a Sua justiça e misericórdia. Ele faz isto em parte através de disciplinas externas como jejuns e festas. Porque estas disciplinas aproximam-nos, fora do auto-isolamento, e também nos desaceleram, nas nossas buscas díspares que nos distraem. Mas elas não são fins em si mesmas, e perdem o seu significado fora de Deus. O “fim” que Deus busca, ao desacelerar-nos através do jejum e das festas/repousos, é a nossa comunhão com Ele, a nossa harmonia com o Seu amor e misericórdia.

Por isso, que eu não perca de vista a floresta, que é o “grande” quadro da justiça e misericórdia universal de Deus, por focar apenas nas árvores, que são as regras do jejum. “Devemos” seguir estas, como nos diz o nosso Senhor, “sem omitir” aquelas (Mateus 23,23). Ao iniciar a disciplina salvífica da Quaresma, que eu “venha” e raciocine junto com Deus, como Ele me chama a fazer, em oração sincera, e em humilde confiança na Sua graça, para que Ele possa tornar os meus pecados “brancos como neve” n’Ele e com Ele. Feliz início da Quaresma!

Versão brasileira: João Antunes

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