“No ano seiscentos da vida de Noé, no mês segundo, aos dezessete dias do mês, naquele mesmo dia se romperam todas as fontes do grande abismo, e as janelas dos céus se abriram, e houve chuva sobre a terra quarenta dias e quarenta noites.” (Gênesis 7,11s)
Eis um pensamento peculiar. Estes “quarenta dias e quarenta noites”, mencionados na leitura da nossa Igreja para hoje, durante a Quaresma, recordam-me os 40 dias da Quaresma. Mas será isso realmente peculiar, conectar estes dois?
Não, acho que não. Porque a Escritura, juntamente com outras partes da Tradição, como a Quaresma, é-me transmitida, para que eu possa fazer conexões e “reconhecer” o Deus Único trabalhando e falando através dela, ontem e hoje. Certos símbolos, como os “quarenta dias”, repetem-se aqui e ali através da Tradição, revelando uma linguagem comum e uma Fonte comum dessa linguagem, nomeadamente, Deus.
Assim, para chegar ao meu ponto, hoje estou “conectando” os “quarenta dias e quarenta noites” de chuva que caem sobre a terra n’O Grande Dilúvio com o que está acontecendo agora, durante a Grande Quaresma. N’O Grande Dilúvio, Deus “desfez toda a substância que havia sobre a face da terra, desde o homem até ao animal, até ao réptil, e até à ave dos céus; e foram extintos da terra: e ficou somente Noé, e os que com ele estavam na arca” (Gênesis 7,23). Agora, durante a Quaresma, estamos reunidos de uma forma especial, muito focada, na arca que é a Igreja, experimentando este “dilúvio” da graça de Deus nas orações intensificadas, no jejum e noutros rituais da Quaresma. Este “dilúvio” destina-se a “desfazer” da minha vida tudo o que deixou de servir ao propósito de Deus. Assim, posso voltar a concentrar-me, com os demais reunidos na nossa “arca”, no Seu propósito, e depois seguir em frente de forma centrada em Deus. Senhor, dá-me hoje abrigo na Tua arca, e “desfaz toda a substância” que ainda vive em mim e que tenha deixado de Ti servir. Amén!
Versão brasileira: João Antunes
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