“Pois todos nós recebemos da sua plenitude, e graça sobre graça (καὶ χάριν ἀντὶ χάριτος / и благодать возблагодать); porque a Lei foi dada por intermédio de Moisés, mas a graça e a verdade vieram por Jesus Cristo.” (João 1,16s)
Jesus Cristo oferece-nos a “plenitude” da graça e da verdade, porque Ele é a Fonte de ambas. Mas isto não significa que o mundo criado por Deus, ou nossas vidas, fossem totalmente desprovidos da verdade ou da graça, antes de Sua vinda a elas, porque nenhum ser vivo pode “ser” sem o sopro cheio da graça e da verdade do Criador. Em comunhão com Cristo, porém, é-nos dada Sua plenitude da graça, “sobre” graça, que tínhamos em virtude do “meramente” ser, biologicamente. Como escreve São João Crisóstomo, comentando esta passagem: “E o que é que recebemos? Ele disse: ‘graça sobre graça’. Que tipo em lugar de que tipo? A nova no lugar da antiga”.
Hoje estou refletindo nesta passagem em ligação com as muitas orientações úteis e apoios oferecidos pelos programas e autores de “auto-ajuda”. Há, como milhões de pessoas irão atestar hoje, benefícios em seguir os passos ou mesmo as “regras” de auto-disciplina estabelecidas por tais fontes, se alguém estiver inclinado a fazê-lo, particularmente porque muitas vezes elas se baseiam na sabedoria da “mensagem” judaico-cristã. Mas uma coisa que não podemos receber, mesmo que possamos ter mais ordem em nossa vida seguindo um programa de auto-ajuda, é “a plenitude da graça e da verdade” que recebemos em comunhão com o Deus vivo. Ele não é apenas uma ideia útil ou um “poder maior que nós” anônimo, sobre o qual nos baseamos para tornar nossa existência quotidiana um pouco menos miserável, mas uma Pessoa. E Ele chama-nos não apenas a sobreviver (o mais eficaz e o menos miseravelmente possível), mas a ter Vida e “vida em abundância”, em comunhão com Ele, pela plenitude da graça e da verdade de Seu Filho unigênito, e em Seu Espírito Santo. Glória a Ele.
Versão brasileira: João Antunes
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